Música
D.A.M.A: “Demos o grito do Ipiranga, não temos de fazer aquilo que as pessoas esperam”
Em “Lado a Lado”, o terceiro disco, soltaram-se realmente pela primeira vez. Está à venda esta sexta-feira, 24 de novembro.
Uma obra de Bordalo II ocupa a parede do Infame.
Já eram conhecidos os temas “Pensa Bem”, “Não Comeces”, “Era Eu” e o mais recente “Oquelávai”. Esta sexta-feira, 24 de novembro, é possível descobrir nas lojas as restantes oito faixas de “Lado a Lado”, o terceiro disco de originais dos D.A.M.A, editado pela Sony.
A produção do disco, mais complexo do que os anteriores, atrasou e acabou por adiar o concerto de apresentação para 9 de fevereiro de 2018 no Campo Pequeno, em Lisboa. “Vai ser uma maluquice, o pessoal tem de ir”, garante Miguel Coimbra, um dos membros da banda.
É também com Miguel Cristovinho e Francisco ‘Kasha’ Pereira que a NiT o encontra no restaurante Infame, que faz parte do 1908 Lisboa Hotel, para falar do significado das ilustrações de “Lado a Lado” (feitas pelo irmão de Coimbra), do momento em que os três deram “o grito do Ipiranga” e da vontade de voltar ao palco do Rock in Rio (onde atuaram em 2016).
Entretanto, já na segunda-feira, 27, os D.A.M.A atuam na Casa da Música, no Porto, e os lucros revertem inteiramente para a associação Vida Norte.
Durante a tarde houve ainda tempo para um mini teste de cultura musical e o consenso raramente foi conseguido. Leia a entrevista e veja o vídeo.
A edição deste álbum atrasou um pouco. Porquê?
Miguel Cristovinho: Nós somos tão exigentes na nossa música como em tudo o que toca na nossa arte, obviamente que as músicas são as coisas que podemos controlar melhor mas, por exemplo, no artwork do álbum também quisemos estar muito presentes. Foi tudo desenhado à mão pelo irmão do Miguel [Coimbra], o Gonçalo. Fomos nós a produzir tudo no nosso home studio e é muito pessoal, desde as pessoas com quem trabalhámos aos familiares, passando pelos músicos.
Francisco ‘Kasha’ Pereira: A nossa prioridade é que o que esteja no álbum seja exatamente aquilo que queremos e só assim é que conseguimos defender aquilo que fazemos. A prioridade é essa, tudo o resto é secundário.
M. Cristovinho: Os timings do mercado passam para segundo plano porque o que interessa realmente é a nossa arte, a música.
O processo foi mais demorado do que é habitual?
Miguel Coimbra: Foi um álbum que fizemos sem pressa, estamos a desenvolvê-lo há muitos meses. Nesta fase final tivemos de acelerar um pouco porque estávamos atrasados nas produções, nas gravações, nas misturas. Temos de enviar as coisas para as fábricas para serem pré-produzidas e isso tem tudo timings. Se nos atrasamos um dia, passamos para o fundo da linha. Atrasámo-nos na entrega dos masters e foi isso que atrasou tudo.
Kasha: Nós acabamos por fazer tudo. Compomos, escrevemos, a capa foi feita pelo irmão do Miguel com uma ideia que ele teve.
Kasha: “Há um polvo na capa que simboliza o facto de querermos por a mão em tudo”
Deram-lhe algumas dicas ou era a visão que ele tinha de vocês?
Kasha: Há um polvo na capa que simboliza o facto de nós querermos por a mão em tudo o que nos diz respeito.
M. Coimbra: Ele esteve também presente no desenvolvimento das músicas, canta em algumas, é compositor de uma delas. Todo o desenho junta pequenas histórias sobre nós e sobre as músicas e as pessoas, à medida que ouvem as músicas, conseguem decifrar algumas.
Há muitos músicos que, quando colocam um disco no mercado, já têm outro de avanço. Vocês também são assim? Já têm muitas coisas escritas que dêem para um novo trabalho?
M. Coimbra: Quando lançámos o segundo disco, acho que já tínhamos canções para um terceiro mas nenhuma delas acabou por entrar no “Lado a Lado”. Temos já músicas para um quarto disco e para um quinto mas têm de fazer sentido no momento. Houve músicas que começámos a gravar e abandonámos porque já não estávamos a sentir aquilo, fomos por outro caminho. A resposta é sim, temos material, mas vamos deixar as coisas acontecerem a seu tempo.
Para cada um de vocês, qual é o tema deste disco que vos diz mais pessoalmente?
M. Cristovinho: Para mim é o “Miúdas Como Tu”. Não é aquele pelo qual eu tenho mais afeição sentimentalmente mas foi o primeiro tema do Lado B que fizemos e foi aquele em que demos o grito do Ipiranga. Nós não temos de fazer aquilo que as pessoas estão à espera mas sim o que sentimos. Sempre fizemos isso mas às vezes um bocadinho a medo. Neste álbum soltámo-nos completamente e é isso que estamos a dizer com os dois lados. O Lado A é mais acústico mas é só uma questão estética porque nós somos os dois. Estes dois lados andam lado a lado dentro de nós, são a nossa essência.
M. Coimbra: A mim é o “Todas” [risos]. Todas as canções têm a sua história e magia. É como perguntarmos a alguém qual é o filho preferido, é difícil de dizer.
Há sempre um com o qual nos identificamos mais.
M. Coimbra: “Oquelávai” e o “Tudo Sobre Nós” são as mais sentimentais, que puxam aquela lágrima e nos fazem reviver memórias.
Kasha: A que me diz mais é “Oquelávai”, aquela em que nos retratamos em momentos e situações que vivemos. Em termos de música, aquela de que mais gosto é a “Não Comeces”.
Vocês já tocaram em palcos muito importantes, desde os coliseus à MEO Arena. Foram também a segunda banda portuguesa, depois dos Xutos, a atuar no palco principal do Rock in Rio. Vem aí mais uma edição, vão regressar?
Kasha: Essa experiência foi incrível. Estavam lá 90 mil pessoas à chuva e nós estivemos à chuva com elas. Gerou-se ali uma energia e nós vamos sempre lembrar-nos do dia em que cantámos para aquelas pessoas à chuva e espero que as pessoas se lembrem do dia em que ouviram D.A.M.A à chuva. Este ano ainda não sabemos de nada, com toda a franqueza. Podemos piscar um olho [risos] mas será um ano também cheio de concertos. Agora que tivemos a overdose de estúdio, queremos ir para a estrada.
Já está à venda.