O livro chama-se “Já a Minha Avó Sabia” e remete-nos, no subtítulo, para uma ideia simples: “Como coser um botão e outras coisas fofinhas que as nossas avós sabiam”. Este foi o ponto de partida de Erin Bried, fundadora da revista norte-americana, Kazoo, que após mais de uma década alucinante como editora percebeu que desaprendera quase todos os ensinamentos da avó.
“Quando era pequena costumava ajudá-la a apanhar ruibardo no jardim, em adulta nem sequer sou capaz de identificar as hortaliças no supermercado”, escreve a autora na introdução.
A história da hortaliça é ligeiramente mais elaborada. Com uma agenda sem margem para respirar, entre aviões, quartos de hotel, taxis e salas de embarque, Erin Bried habituou-se a ter sempre gente para a ajudar.
“Nas sessões fotográficas, onde passo muitos dos meus dias a ver estrelas a serem fotografadas, há sempre fornecedores, estilistas, manicuras e até alfaiates, sempre prontos a fazer uma bainha rápida ou a reparar botões soltos. Depois regresso a casa.”
E foi num desses regressos, quando preparava um jantar para amigos, que teve uma epifania. Quis fazer uma tarte de morangos e ruibardo, comprou o que era necessário e esmerou-se no aspeto final, mas quando lhes deu a provar percebeu que trocara um dos ingredientes essenciais. A tarte sabia “a relva”. “Quando é que perdi a capacidade de tomar conta de mim?”
“Já a Minha Avó Sabia” resulta das conversas de Erin Bried com dez avós norte-americanas. É uma espécie de manual de sobrevivência doméstica “para tempos difíceis em que o dinheiro é pouco e a falta de sabedoria é muita”.
A NiT escolheu cinco conselhos fundamentais para enfrentar a vida domésticas e os dramas de quem nunca soube escrever a palavra esfregona.
- Limpar
Todos já ouvimos falar de mezinhas caseiras para acabar com grandes dramas: a nódoa invencível na camisola, as janelas que parecem translúcidas mas não deixam o sol entrar, os milhões de germes do lava-loiça, a atmosfera pestilenta da casa de banho. Para todos estes problemas, Erin e as avós têm apenas uma palavra: vinagre. “É um produto de limpeza milagroso, dá para quase tudo”.
2. Alergias
A primavera até pode parecer aquele tempo de bonança, do adeus aos dias cinzentos, à chuva e ao frio, com a cidade a ganhar novas cores. Certo? Que o diga um alérgico ao pólen. Mildred Kalish, uma das avós entrevistadas, tem alguns conselho úteis. O primeiro é fingir que é um vampiro:”se estiver um dia de sol, seco e ventoso, feche as janelas e esconda-se lá dentro”. No caso de ter mesmo de sair, o melhor é descalçar-se assim que voltar a casa. Evita que o pólen se espalhe. Se o espirro persistir, “passe-se por água e vista roupas lavadas”. Atenção: não lave imediatamente a que despiu.
3. Expulsar cobras
Não será um problema para quem vive no 6º direito. Mas se vive no campo, este conselho é para si: imagine que está tranquilamente a cortar a relva quando se depara com uma cobra no canteiro. “Se estiver a chocalhar, silvar ou a olhar fixamente para sim deixe-se ficar absolutamente imóvel. Ela afastar-se-á desde que tenha uma saída viável. Depois respire, corra para casa e beba um cocktail.” Há vantagens em ter estes inquilinos no jardim: não comem as hortaliças mas acabam com pragas, ratos, lesmas e bichas-cadelas. Se ainda assim preferir bani-las do jardim, a avó Milred Kalish aconselha: relva sempre curta, sebes aparadas, nada de folhas ou pilhas de pedra no chão.
4. Ganhar uma discussão idiota
Não vai ser preciso falar muito. Em vez de um debate aceso aborde o seu interlocutor com frases como “pareces mesmo apaixonado pelo tema”, apresente pontos de entendimento para trazer à memória da outra pessoa que é amiga e não inimiga. Sempre com calma e de sorriso no rosto, mas considerando que “existe uma pequeníssima hipótese de estar errado”. Depois encerre o assunto.
5. Paz entre vizinhos
Viver em sociedade muitas vezes implica partilhar uma torre de 16 andares, com dez apartamentos por andar. Contas por alto são umas boas centenas de pessoas num espaço pequeno, com apenas dois ou três elevadores. É quase impossível evitar o conflito. Se for um problema ocasional não ligue, mas se persistir terá de tomar medidas. Primeiro convide o seu vizinho para um café, dê-lhe uma oportunidade. Se não funcionar terá de pedir ajuda as autoridades. E aqui começa a escalada: peça aos vizinhos para fazer o mesmo, organize o bairro, considere a possibilidade de marcar uma reunião com os vizinhos. Mas atenção: nunca confronte aquele vizinho se estiver irritado. “Prepare um martini, vá dormir e aborde-o no dia seguinte.”