Uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade. Não é que passe a ser verdade, mas como toda a gente assume que é, é tratada como tal. É isso que acontece com tantos mitos e ideias pré-concebidas que temos que não passam disso: mitos.
Um novo livro, “Cem Mitos Sem Lógica”, tenta desmistificá-los e repor a verdade (com humor à mistura) em relação a vários temas. Foi escrito pela jornalista Sara Sá e pelo neurocientista Pedro Ferreira. A edição da Desassossego custa 15,50€ e está à venda desde 16 de março.
Alguns mitos comuns, que não são verdadeiros e são explicados no livro: beber vinho por cima de melancia pára a digestão, só usamos 10% do cérebro, os cães veem o mundo a preto e branco, Napoleão era um homem baixo ou que o frio provoca constipações. Nada disto é bem assim. A NiT explica-lhe três deles.
Só temos cinco sentidos
“Todos aprendemos na escola, enquanto ainda bem novinhos, que nós, humanos, temos cinco sentidos. Os livros ensinam-nos aquilo que sabemos acerca da nossa capacidade de ver, de chegar e tocar o mundo, de ouvir os seus sons, de saborear os seus paladares. Mas uma coisa que os livros raramente mostram, e que os cientistas têm vindo a descobrir, é que existem mais potencialidades sensoriais no nosso organismo que os amplamente conhecidos cinco sentidos mostram (e aqui não estamos a falar de um místico sexto sentido que nos permite falar com fantasmas ou adivinhar quando vai chover recorrendo aos nossos joanetes).
Antes de mais, o que é um sentido? Consiste basicamente num sistema de recolha sensorial acerca do nosso mundo. Podemos pensar nos sentidos como sendo os sistemas de interpretação do nosso cérebro que medeiam a nossa relação com tudo o que está à nossa volta.
Alguma vez parou para pensar como o seu corpo consegue sentir dor, saber onde ele próprio termina e onde começa o mundo exterior, ou mesmo apenas como manter-se em pé? Todas estas proezas são garantidas por sentidos diferentes, e nenhum deles menos importante do que a nossa audição, tato, paladar, olfato ou visão. O sistema vestibular possibilita a nossa sensação de equilíbrio, a proprioceção saber onde está o nosso corpo, os nossos membros, e a termoceção detetar diferentes temperaturas. Saber onde estão os nossos braços ou quando a sopa está suficientemente morna para a podermos comer não devem ser vistos como menos nobres.”
O chocolate faz borbulhas
“Já não basta a pessoa ter a cara pintalgada de borbulhas, ainda fica impedida de afogar as mágoas e os desgostos amorosos na terapia mais a jeito. O meio de que o chocolate faz borbulhas deve ser dos mais disseminados. Não há adolescente que não ouça isso dos pais. Alguns médicos acompanham mesmo o tratamento da acne com a proibição de comer chocolate. E mesmo que não se leve a recomendação à risca, da culpa não nos livramos.
No entanto, nada foi provado relativamente à ligação entre chocolate e borbulhas na cara. A ligação, supõe a dermatologista americana Ava Shamban, terá origem na síndrome pré-menstrual (sim, esse terror que deixa algumas mulheres como que possuídas, sob o efeito dos picos hormonais). Segundo a tese da médica, explicada ao jornal “The Huffington Post”, nesta fase do ciclo, as mulheres sentirão a tentação de recorrer ao poder do chocolate para acalmar a neura. Ora, durante a fase pré-menstrual os níveis de estrogénio baixam e os de androgénio sobem, o que, nas mulheres com tendência para a acne, leva ao aparecimento de borbulhas. E quem paga é o chocolate.