Cinema
Como Nicole Kidman se tornou agressiva na vida pessoal por causa de “Destroyer”
A atriz interpreta uma detetive alcoólica à beira do colapso. Está irreconhecível no filme que estreia a 31 de janeiro.
A detetive Erin Bell está à procura de vingança.
De olhos esbugalhados, lábios secos e uma pele marcada pelo excesso de álcool e drogas ao longo dos anos, nunca reconheceríamos Nicole Kidman no papel da detetive Erin Bell — houve uma grande produção de maquilhagem (e também alguns efeitos visuais de computador).
Ela é a protagonista de “Destroyer: Ajuste de Contas”, filme realizado pela americana Karyn Kusama que estreia em Portugal esta quinta-feira, 31 de janeiro. É um thriller negro passado em Los Angeles, nos EUA, em que esta polícia — que teve uma vida marcada por várias tragédias — volta a ligar-se a algumas pessoas que conheceu durante uma missão infiltrada num passado distante. Está à procura de vingança, daí o “ajuste de contas” na tradução portuguesa do título.
A personagem é movida pela raiva que tem pelas pessoas que a rodeiam — e pela vida em geral. Ela não se importa minimamente com aquilo que os outros pensam dela, nem sequer está preocupada se vai conseguir sobreviver ao caso em que está a trabalhar. Mas a verdade é que nem a sua filha nem o namorado da filha, nem o ex-marido, o atual namorado e muito menos ela própria vão sair ilesos desta história.
Nicole Kidman falou com o jornal “The New York Times” sobre como foi fazer este papel agressivo. E confessou que estava cheia de medo.
“Pensei que não o conseguiria fazer. Depois apareci no cenário das gravações, acho que não falei com ninguém. Estava fechada sobre mim própria, mas é assim a Erin.”
A atriz australiana de 51 anos revelou ainda que, antes de começar as gravações, costumava gritar bastante alto ou soltar um grunhido gigante. “Sei que parece insano.” E comentou que é um papel que a deixou “em baixo”.
“Tens de carregar mesmo o fardo dela para ser real. Mas houve algo incrível em libertar essa energia. Nunca tinha feito isso num filme.”
Há uma cena em que Erin Bell espanca o namorado da filha, e foi gravada nos primeiros dias de filmagens. “Eu disse ao tipo: ‘Ouve, tem cuidado’. Ele respondeu: ‘Não, eu aguento’. E fui lá e comecei a empurrá-lo. Estava zangada, mesmo zangada.”
Kidman gritava antes de começar a gravar.
A atriz que foi nomeada para um Globo de Ouro por esta performance disse que havia um ambiente estranho nas gravações por causa da natureza da sua personagem — que ela encarna mesmo, psicologicamente, para a conseguir representar melhor.
“E isso notava-se pela forma como as pessoas reagiam nas gravações. Todos me evitavam. Mas a [argumentista e realizadora] Jane Campion ensinou-me desde muito cedo na minha carreira: ‘Não estás num concurso de popularidade quando és uma atriz, lembra-te disso. Tens de ser verdadeira à essência da personagem.’ Podes ser decente para as pessoas e respeitá-las, mas não podes andar a contar piadas de um lado para outro. Se assim fosse, ia notar-se que eu estava a representar.”
Nicole Kidman interpreta a mesma pessoa na atualidade e no passado, quando estava numa fase melhor da vida. E fez questão que fosse mesmo assim. “Normalmente eles poriam uma atriz mais jovem [a fazer de Erin no passado], mas isso seria o suficiente para eu não querer fazer isto. Não vou fazer uma personagem em que não possa abordar todos os ângulos dela — seria frustrante. Uma das coisas mais interessantes sobre a Erin é que, quando descobre que está grávida, ela está drogada. E essa é a relação que ela começa com a filha. É fascinante e cheio de dor, mas se não puder fazer essa cena e ambos os lados da personagem, deixa de ser um papel interessante para mim.”
A atriz, que já venceu um Óscar de Melhor Atriz em 2003, pelo papel em “As Horas”, também explicou como foi identificar-se com esta personagem numa entrevista com a revista “People”.
“Penso que, como seres humanos, todos temos bastantes coisas em comum. Todos nos identificamos com os erros e queremos que as nossas filhas tenham uma vida melhor do que aquela que tivemos.”
Nicole Kidman é mãe de quatro filhos. Sunday Rose (10 anos) e Faith Margaret (8 anos) são fruto do seu casamento com o músico Keith Urban. Já Bella (26 anos) e Connor (24 anos) são filhos de Kidman e do ex-marido Tom Cruise.
Na vida real Nicole Kidman
é assim.
Ao “The Los Angeles Times”, a atriz disse que as filhas mais novas lhe chamaram “avó” quando a viram caracterizada para a personagem de “Destroyer: Ajuste de Contas”. Nicole Kidman aceitou a piada e disse que podia ir assim vestida para a escola delas no dia dos avós. “Penso que seria divertido e daria uma boa história para quando elas forem mais velhas.”
Explicou ainda por que foi um desafio tão bom para a sua carreira neste momento. “Esta personagem é tão distante de mim e isso é apelativo para os atores, fazer coisas que ainda não tenhas feito. Ela é tão perturbada, dorme no carro e às vezes nem dorme. Está numa fase da vida em que está tudo acabado. Quase que não consegue terminar o dia, quanto mais pensar num futuro.”
Contudo, encarnou realmente a personagem durante os meses de gravações. “Penso que ponho uma personagem no mundo e depois afasto-me. É muito, muito estranho ser atriz, ou pelo menos da forma como represento. Vejo o mundo com olhos diferentes, com uma mentalidade distinta. Tudo fica diferente. Dá-me uma grande empatia e ligação com o mundo. Posso ir para outro sítio e ver as coisas daquele ponto de vista e depois regresso à minha vida.”
No elenco de “Destroyer: Ajuste de Contas” estão ainda Toby Kebbell, Tatiana Maslany, Sebastian Stan, Scoot McNairy, Bradley Whitford e Toby Huss, entre outros.
Depois desta história, Nicole Kidman regressa para a segunda temporada de “Big Little Lies”, que ainda não tem data de estreia mas que deverá chegar este ano. Faz ainda parte do elenco “The Goldfinch” (estreia a 10 de outubro); de um filme ainda sem título sobre a cultura de assédio na Fox News, em que irá contracenar com Margot Robbie e Charlize Theron; e está no elenco de duas novas séries chamadas “The Undoing” e “The Expatriates”.