“Último comboio. Lua cheia. Tudo muda.” Este é como que o slogan de “Howl”, o filme que desde o início nunca promete ser outra coisa que não um caos de acontecimentos e um disparate narrativo. E porque é que conseguimos tolerar os clichés, os jump scares previsíveis (mas que assustam na mesma porque o som está altíssimo) e uma série de personagens estereotipadas que compõem um enredo machista? Porque nada disto é suposto ser levado a sério, e porque não há uma única preocupação além da de criar gore e momentos anticlimáticos que tentam desesperadamente ser climáticos. “Howl” goza consigo mesmo, e por isso tem piada. O filme passou esta quarta-feira no MOTELx.
Não há outra maneira de vermos este filme sem ser na brincadeira – e foi precisamente por isso que a organização do MOTELx achou por bem convidar Manuel João Vieira, dos Irmãos Catita, para introduzir a obra. Aproveitando a ocasião para apresentar a sua candidatura às legislativas, Vieira descreveu “Howl” como uma metáfora política à precária situação nacional. Mas, antes, vamos ao conceito do filme.
Joe (Ed Speleers) – “Eragon (2006) – é o guarda do último comboio a sair de Londres. A meio caminho, o motorista é obrigado a fazer uma travagem brusca, ninguém percebe porquê. O motorista vai em busca de respostas e encontra um veado esborrachado entre as carruagens – e depois desaparece, gerando o pânico entre os passageiros.
O tipo mais pragmático e com um apurado sentido de sobrevivência é considerado pelos outros uma “má pessoa”
Ora, de acordo com o “candidato” Vieira, como o próprio se enuncia, o comboio estagnado é Portugal e o motorista desaparecido é Cavaco Silva. Correto – mas não esqueçamos o guarda macambúzio que nunca consegue ser um líder credível (Passos Coelho); os Lobisomens que vão, calmamente, caçando os passageiros (a troika); e o veado abalroado que estagna o comboio (José Sócrates).
Esta é a parte divertida, que dá para rir por ser tão má e despropositadamente sangrenta – o pior são os dramas. Primeiro, temos um ‘pica’ que sonha com o dia em que venha a ser supervisor (e com a hospedeira de bordo); depois, um idoso que não aceita o facto de a sua mulher estar a morrer (apesar de a sua perna ter sido praticamente arrancada); e temos ainda o típico machista milionário, que, com uma visão pragmática e um apurado instinto de sobrevivência, encontra soluções perfeitas para sair da situação com vida, mas como é considerado por todos uma “má pessoa”, acaba por ter algumas dificuldades.
É difícil catalogar estes filmes. Serão apenas maus, ou bons por terem conseguido gerar tanta parvoíce tão descabida que acaba por divertir? Independentemente da resposta, certo é que vê-los novamente não é sequer uma hipótese.