A moda já não tem regras, muito menos de género. É por isso que muitas mulheres apostaram no conforto das sapatilhas, assim como vários homens apareceram em extravagantes e elegantes saltos altos. A 52.ª edição da ModaLisboa, que decorreu entre 8 a 10 de março, sexta-feira a domingo, foi a prova disso.
Uns optaram por botas e outros botins. A altura variou entre os três e os dez centímetros. Independentemente da escolha, uma coisa é certa: já não há medo de se ser aquilo que se quer. O calçado foi uma forma de afirmar isto mesmo.
Os homens mais inexperientes conjugaram os saltos com calças de ganga e casacos estilo cabedal. Mas também houve quem arriscasse em vestidos longos, coordenados clássicos de uma só cor e em peças que parecem verdadeiras obras de arte.
A NiT fotografou oito homens que fizeram questão de calçar saltos altos no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa. Três deles contaram-nos quando e como começaram a usar este tipo de calçado.
Paulo Graça usa saltos há cerca de um ano
Durante muitos anos, Paulo Graça, 22 anos, teve medo de represálias e não foi capaz de levar os saltos para a rua. Porém, houve um dia em que decidiu que isso tinha de mudar.
“Usei saltos pela primeira vez quando tive um jantar de final da licenciatura. Pensei ‘quero usar saltos hoje’ e assim foi. Os meus colegas nunca me tinham visto de saltos mas, como estávamos a tirar um curso de moda, não houve tanto alarido. Contudo, algumas pessoas que estavam no restaurante fizeram olhares mais reprovadores”, conta à NiT.
Embora já esteja habituado a ouvir críticas negativas, houve um momento em particular que relembra com maior tristeza.
“Estava no metro e entrou uma senhora a dizer bem alto: ‘Nem macho, nem fêmea. Não se decide’.”
José Vieira arriscou neste look há três meses
“As botas que tenho calçadas foram os primeiros saltos que usei. Foi apenas há cerca de três meses”, conta à NiT José Vieira, 19 anos.
O designer de moda do Portugal Fashion sempre andou de saltos em casa. Porém, passar para a realidade da rua era mais assustador, uma vez que continua “a existir preconceito”. Recorda à NiT o tempo em que as texanas — o estilo de botas que está a usar — eram apenas usadas por homens.
“Era assim no século XVI. Só depois é que as mulheres usaram. Entretanto, criaram-se muitos preconceitos.”
Quanto às reações da família, José respondeu sem pensar duas vezes: “O meu pai adorou. A minha mãe detestou, mas aprendeu a lidar com isso.” Embora continue a sentir o julgamento das pessoas quando anda de saltos no dia a dia, acredita que este look se vai tornar algo normal em breve.
Artur Dias afirmou-se no Sangue Novo
Quando era pequeno, roubava os saltos à mãe “e tinha um momento drag no quarto”. Há cerca de dois anos deixou o medo de lado e passou da segurança da sua casa para o mundo real. Por enquanto, Artur Dias, 22 anos, aposta em saltos mais baixos no dia a dia. Só em ocasiões especiais é que arrisca mais.
Na coleção em nome próprio que apresentou na sexta-feira, 8 de março, no desfile de Sangue Novo, o designer calçou uns saltos agulha e afirmou-se perante a plateia.
“Aquela história de que os homens não podem usar saltos ou saias é cansativa e super 2001. Cada um usa o que quer. O que importa é que quem usa se sinta confortável. Nos séculos XVI e XVII era a coisa mais natural de sempre”, desabafa à NiT.
Carregue na galeria para descobrir os looks com saltos altos destes três homens e outros cinco durante a 52.ª edição da ModaLisboa.