“Estava cansado de Lisboa, cansado de correr para chegar atrasado.” Há mais de 20 anos que o chef Hugo Nascimento trabalhava nas cozinhas de Vítor Sobral. O ritmo nunca foi um problema, até assume que não se importava que o trabalho muitas vezes se confundisse com a vida pessoal. Mas estava na altura de mudar. “Também tenho família”, explicou o chef à NiT no Naperon, sentado numa das mesas da esplanada e com vista para o moinho. Estamos no novo restaurante que o chef abriu em Odeceixe, no Algarve.
Sair de Lisboa sozinho nunca foi uma hipótese. Há alguns meses que falava com a mulher, Joana, sobre o tema. Agora, já fixado na região, não pensa em voltar para uma grande cidade. “Estou completamente focado neste projeto de vida e de família.” Com o chef e a mulher, vieram também os dois filhos, com 3 e 5 anos.
Odeceixe não foi a primeira escolha, mas acabou por se tornar a mais óbvia. “Pensei em sair para Grândola e até comentei com o Ljubomir [Stanisic] sobre isso, que é como se fosse um irmão.” Era para as Casas do Moinho, um turismo de aldeia nesta que é a primeira localidade do Algarve, logo a seguir ao Alentejo, que iam de férias há nove anos.
“Da última vez que estivemos cá, comentei com os responsáveis do projeto [Arnaldo Couto e Sandra Barbêdo] que estávamos a pensar sair de Lisboa e ir para Grândola abrir um restaurante. Eles perguntaram logo porque não vínhamos para aqui [Casas do Moinho].” Em apenas uma semana, Hugo e a mulher deram uma resposta positiva e começaram a preparar a viagem para o Algarve.
“Eles não acreditavam, mas começámos a preparar tudo.” O espaço onde está o restaurante Naperon, e toda a zona envolvente junto à piscina e com o moinho ao fundo, não era de todo desconhecida para o chef. “Todos os anos fazia aqui um jantar anual para os amigos e hóspedes.”
Em 2019, quando foi de férias para Odeceixe, já não voltou para Lisboa. Em setembro do ano passado começou a servir os primeiros jantares. Porém, o serviço só se tornou regular quando o espaço ficou finalmente pronto, no início de 2020.
“Quero acrescentar valor, elevar o nível do projeto, ajudar e participar neste crescimento”, conta à NiT, orgulhoso pelo percurso que tem sido feito.
O Napreron foi a mais recente novidade das Casa do Moinho e o chef tem sentido que nem só os hóspedes procuram ali jantar. Tem noção de que não é um restaurante de passagem, mas que já há muitas pessoas que fazem o caminho até Odeceixe de propósito.
E que o que se pode encontrar à mesa? “É a cozinha do Hugo Nascimento, tradicional portuguesa e com bons produtos.” Muitos deles chegam da região, como é o caso dos legumes que o chef até colhe com o responsável pela produção, o senhor António Rosa, manteiga de amendoim da Alcagoita, ou o sal da Salmarim, de Castro Marim.
O menu que apresenta não é sempre igual, pelo menos no que diz respeito aos pratos. Numa semana pode trabalhar mais um certo tipo de produtos, noutra dias vira-se para outros ingredientes. A única certeza na carta é que existem sempre duas opções. Uma, a 30€ por pessoa, com entrada, prato e sobremesa. A segunda, de 50€, com entrada, prato de carne, peixe e sobremesa. São uma espécie de menus de degustação.
No dia em que a NiT passou pelo espaço, por exemplo, houve gaspacho de pêssego e croquete de rabo de boi, iogurte e hortelã. Como entrada o chef preparou um rosbife com feijão e emulsão de salsa. No prato de carne, a sugestão era uma presa com cebola e legumes marinados. O peixe foi um espadarte com xerém e molho de berbigão. A refeição terminou com a sobremesa de morangos, damasco e framboesa.
Os dois menus incluem ainda um snack de boas-vindas e o couvert composto por pão artesanal de trigo, bolachas de alfarroba, outro dos produtos da região, manteiga de aipo, outra de tremoço e azeite. A carta de vinhos é curta, mas com sugestões de todo o País, servidas tanto em garrafa como a copo. Um deles, o Hugomir, do Douro, foi criado com o “irmão” Ljubomir.
Se quiser comer por lá, convém fazer reserva. O Naperon só serve 20 jantares por noite. Aos almoços não estão abertos e a equipa, composta por mais três pessoas, faz ainda a preparação dos pequenos-almoços para os hóspedes — que são servidos na mesma sala das refeições do Naperon.
Numa próxima fase, Hugo espera conseguir convidar chefs amigos, como Stanisic e Vítor Sobral, para eventos especiais. Aliás, isso só ainda não aconteceu por causa da pandemia.
Carregue na galeria para conhecer melhor os pratos e o espaço deste belo Naperon algarvio.