Sim, leu bem. O licor que bebe como digestivo, simples ou com gelo, e que é excelente para cocktails era, nos finais do século XIX, vendido na farmácia como a solução perfeita para todos aqueles que tivessem problemas estomacais. Passaram quase 80 anos, e o Beirão, que diz ser o “Licor de Portugal”, já começou a conquistar o mundo. Muito às custas do “mercado da saudade”, que faz dos portugueses – que o dão a provar aos amigos – os melhores embaixadores da marca.
Quando lhe disseram que o slogan que lançou nos anos 60 – “O Licor de Portugal” não tinha potencial porque o que era bom era o que era importado, José Carranca Redondo, o verdadeiro pai do Licor Beirão, não quis saber. Era um homem de ideias fixas e já nessa altura achou que devíamos ter orgulho das nossas origens. E que não havia razão nenhuma para ter receio de arriscar.
Foi essa mesma convicção que o levou a enfrentar Salazar quando, com um escadote e um balde de cola, decidiu afixar pelas ruas e estradas do país cartazes com o slogan “O Beirão de quem todos gostam”. O criador do Estado Novo achou-lhe graça. A mesma que convenceu doutores – “Que licor, senhor doutor” –, engenheiros – “Que licor porreiro, senhor engenheiro -, juízes – “Que licor feliz, senhor juiz”-, generais – Que licor divinal, senhor general”- e até priores – “Que licor, senhor Prior!”. Porque de nada lhe valia ter o melhor produto do mundo, se não o desse a conhecer, para depois vendê-lo.
Carranca Redondo teve a visão e a coragem de perceber que a propaganda poderia fazer a diferença e os seus herdeiros (filho e netos), atualmente à frente do negócio – limitaram-se a fazê-lo crescer, com ideias novas, mas sem nunca perturbar, na essência, a imagem que o criador do Beirão tinha da marca. Quem não se lembra de ver o Manuel João Vieira, vocalista dos Ena Pá 2000, a percorrer os bares de norte a sul do país a perguntar “O que é que se bebe aqui?”, ou o do José Diogo Quintela, vestido de campino, a impor o Beirão como “a primeira bebida da noite”.
Atualmente saem da Quinta do Meiral – local onde o Beirão é produzido – cerca de 25 mil garrafas por dia, num total de três milhões e meio de garrafas produzidas por ano. O elixir que era usado para curar problemas estomacais é, desde 2008, a bebida espirituosa mais vendida em Portugal e porque onde há portugueses há, por norma, Licor Beirão, as exportações já representam 25% do total de vendas.
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