Este é provavelmente o chinês clandestino mais conhecido de Lisboa. Tem direito a página na Zomato e durante muito tempo era preciso reservar mesa para conseguir comer por ali. O sucesso foi tanto que há cerca de dois anos o restaurante do número 9 da Rua da Guia, perto do Largo da Severa, na Mouraria, até fez obras para aumentar o espaço. Antigamente, os almoços e jantares eram servidos no terceiro piso, que mais parecia um apartamento com várias divisões. Agora, elas são servidas em open espace no segundo andar.
Na semana em que começa o ano novo na China — arranca esta terça-feira, 5 de fevereiro, — a NiT jantou em cinco restaurantes chineses clandestinos em Lisboa. Depois da Rua do Benformoso, fizemos a segunda paragem perto do Largo da Severa, onde provámos as melhores beringelas panadas de sempre — mas já lá vamos.
Chegámos cedo. Subimos até ao segundo andar ainda não eram 20 horas de terça-feira, 15 de janeiro. A porta do prédio estava aberta e as escadas largas em caracol dão acesso à sala vazia de 30 metros quadrados. Somos recebidos por uma mulher chinesa com mais de 40 e poucos anos que nos sentou logo numa das primeiras mesas depois de termos feito sinal com os dedos como quem indica que somos duas pessoas. Ela não fala português.
Ao nosso lado estava apenas uma família de chineses que estava demasiado à vontade para ser apenas mais um cliente. Mais tarde, durante a refeição, o adolescente dessa mesa levantou-se de propósito para nos servir.
Pouco depois de nos sentarmos, trouxeram a carta, dois pratos brancos e os pauzinhos. Os guardanapos estão em dispensadores, como é comum em pastelarias, junto do molho de soja. Ainda não tínhamos acabado de ler a ementa e já estava a chegar um cesto com hóstias de camarão. Oferta da casa.
No meio de algumas trincas começámos por escrever o número quatro na folha do pedido: as beringelas panadas aos pedaços. É obrigatório que o faça. Desta viagem que fizemos pelo mundo da clandestinidade chinesa na cidade, este o prato que mais alegrias nos traz às memórias gustativas. Custa 4,50€ e deve ser temperado com pimenta e sal.
Depois, escrevemos ainda os números 15 e 65b no mesmo bloco. Por esta altura chegaram mais clientes, a maioria estrangeiros. Um grupo senta-se ao nosso lado e como reparou que estávamos a fumar — sim, aqui pode fumar à vontade — perguntou-nos se tínhamos droga. Não estavam com sorte, mas aconselhámos as beringelas, claro.
A sala tem várias mesas corridas, onde cabem, no mínimo, oito pessoas. Existe ainda uma grande televisão — que esteve ligada durante toda a noite ligada na Sport TV — e os pratos chegam através de um elevador à zona do balcão, onde estão guardadas as bebidas. A cozinha é no piso superior, onde existiu a primeira versão do restaurante.
As paredes estão limpas e decoradas com fotografias de alguns clientes aparentemente felizes que já passaram por ali. Também existem quadros com a skyline de Nova Iorque e de uma ponte suspensa misteriosa. Aos poucos, o ambiente foi ficando barulhento.
Depois da beringela, partimos para a galinha com amendoim (5,50€) — o prato chegou com pedaços generosos de carne e vários legumes cozinhados, como pimentos vermelhos, verdes e também pepino — e para a massa de vegetais (4€), que estava bem servida, com couve pak choi e cenoura.
Desta vez não passámos pela casa de banho, a única divisão fechada da sala e que tem portas tipo poliban.
A conta também foi mais barata do que esperávamos: uma entrada, dois pratos e uma água de meio litro ficou nos 15€. Sem direito a fatura ou multibanco, claro.
Carregue na galeria para ver algumas imagens do que provámos neste chinês clandestino de Lisboa.