80 mil quilos de chocolates são vendidos por ano naquela que é a maior loja da Leonidas do mundo. Fica no número 34 da Rue au Beurre, na zona mais turística de Bruxelas, tem 20 funcionários e por dia saem de lá entre 300 e 350 quilos de chocolates — ao sábado e domingo esses números chegam aos 500.
Criada em 1913, a marca de bombons que é hoje um império mundial e em Portugal já tem dez lojas nasceu de uma história de amor entre um grego e uma belga. Leonidas Kestekides, que dá o nome à empresa, mudou-se para os Estados Unidos aos 18 anos e foi lá que aprendeu a fazer chocolates. Em 1910, aos 28 anos, foi apresentar os seus produtos numa feira mundial (como a Expo 98) na Bélgica, apaixonou-se pela belga Joanna Teerlinck e nunca mais se foi embora. Em 1913 abriu a primeira casa de chá em Gand mas depressa se percebeu que o produto que mais agradava aos clientes não era a bebida. O casal nunca teve filhos e foi Basilio, sobrinho de Kestekides, que largou a Grécia para aprender tudo sobre pralines — é assim o nome correto para os pequenos chocolates belgas.
Juntos montaram um negócio que em dez anos chegou à capital, Bruxelas. O atelier onde eram feitos os bombons, no Boulevard Anspach, passou também a ser loja mas o espaço era tão pequeno que nem porta tinha. Havia um problema: como é que ali alguma vez seria possível vender os chocolates? Basilio usou então a vitrine para transformá-la naquela que ficaria conhecida como a janela guilhotina, uma espécie de balcão que dava para a rua.
“Havia filas incríveis e era um ótimo sistema de vendas. Eram quase compras por impulso, estava tudo ali quando se ia a passar, não era preciso sequer abrir a porta e entrar para comprar”, explica Philippe de Selliers, CEO da Leonidas, à NiT.
É com ele que nos encontramos na loja que fica mesmo à saída da Grand Place, em Bruxelas. Aqui já não existe a famosa janela, que nas primeiras décadas se transformou na imagem de marca comum a todos os espaços. Com a modernização, o conceito foi substituído por outras prioridades mas o essencial, o chocolate, continua a ser feito da mesma forma há mais de 100 anos.
Além das mais recentes criações (tabletes, chocolate quente ou gelados), há 130 variedades de pralines. Chama-se Manon a mais vendida. Existe em chocolate de leite, preto ou branco. O interior é feito de creme de manteiga com sabor a café e tem uma avelã no centro. Na fábrica, os responsáveis pelo recheio mexem-no à mão. “Claro que há uma máquina que os ajuda, mas apenas em termos de força, porque fazemos 100 ou 200 quilos de cada vez.”
A produção para os 1300 pontos de venda no mundo (em 42 países e quatro continentes) sai toda da mesma fábrica, que fica igualmente em Bruxelas. O número de trabalhadores varia ao longo do ano, uma vez que este é um mercado sazonal, mas nunca são menos de 200 ou 250 funcionários.
Os ingredientes são praticamente todos locais. O produtor de leite já não deixa as garrafas de vidro todas as manhãs à porta de Basilio, como acontecia no início, mas a escolha continua a ser muito rigorosa. Só usam manteiga e nunca margarina, não há produtos congelados e o leite nunca é em pó.
Todos os meses são feitos testes para novos sabores pelos três mestres chocolateiros. Muitos chegam ao mercado mas são vendidos apenas durante um período específico de tempo.
“Quando se cria um sabor, a dificuldade depois é inseri-lo nas lojas, que não têm sempre 300 lugares disponíveis. Para se introduzir uma nova praline, é preciso retirar outra”, conta Philippe de Selliers. Ainda assim, para abril de 2019 está prevista uma linha inovadora, na qual já estão a trabalhar.
As receitas não são assim tão secretas. Primeiro porque estão registadas, depois porque há várias pessoas que as conhecem e estão informatizadas. “Se amanhã alguém morre, essa pessoa não pode levar o segredo com ela.”
Além disso, é assim que a Leonidas calcula os lucros, sabendo exatamente que ingredientes e que quantidades estão em cada chocolate. Então, quanto custa fazer um Manon, o bombom mais adorado da marca?
“[Risos] Ah, o segredo está aí. Isso não lhe digo.”