Saúde
Os portugueses dormem mal e há um estudo que mostra porquê
Se acorda todos os dias com a sensação de que não dormiu nada, saiba que não é o único. Um estudo recente confirma que 71% dos portugueses não dormem o suficiente.
Dormir bem é mais difícil do que deveria ser. Não tem que ver só com as horas que passa deitado, mas com a qualidade do sono e com a quantidade de vezes que acorda durante a noite. Um estudo realizado pela Conforama, entre 19 e 31 de janeiro com uma amostra de 1200 pessoas, avança que em Portugal não se dorme assim tão bem: dois em três portugueses dormem mal e os homens dormem menos horas que as mulheres.
De acordo com os dados divulgados, 71% dos portugueses afirma dormir menos de sete horas diárias – 32% admite que o seu sono chega a ser de duas ou três horas por dia. E é em Lisboa que se dorme pior com 74% dos inquiridos residentes na capital a afirmar dormir sete ou menos horas por dia. No Norte a percentagem desce para 70% e na Região do Centro desde para 69%.
Segundo Joaquim Moita, médico pneumologista e Presidente da Associação Portuguesa de Sono, dormir pouco e mal poderá “afetar a qualidade de vida” já que “é fundamental à vida”, Mas há que ter em conta que não pode ser visto só como uma necessidade vital, “mas também como um prazer”. Dormir mal “pode ter muitos impactos na qualidade de vida de cada um, é importante perceber isso”, revela o médico.
Dormir mal não significa só poucas horas de sono
Além das poucas horas de sono Joaquim Moita garante que há outros fatores que levam a que uma pessoa durma mal: “A dificuldade em adormecer, os múltiplos micros despertares e não ter ciclos de sono eficazes, são algumas das causas”. Vamos por partes: “Se ao fim de 20 minutos de estar deitada não conseguir adormecer, mais vale levantar-se e caminhar um pouco para não causar uma insónia”, refere o médico.
Microdespertares
Os micro despertares podem ser maiores, mas “normalmente consistem em dois ou três segundos acordado, em que por vezes a pessoa nem regista essa memória” revela o Presidente da Associação de Sono. Segundo o estudo, os despertares durante a noite, o stress diário e um colchão desconfortável, são as principais razões que afetam a qualidade do sono.
Fases do sono
Segundo o estudo apenas 21% dos inquiridos refere atingir o sono profundo. Mas é importante perceber as principais fases do sono. Primeiro, um sono inicial, depois do sono intermédio e em seguida o sono profundo. “Cada ciclo de sono dura 90 minutos: adormecemos, chegamos ao sono intermédio e depois ao sono profundo”, refere Joaquim Moita. Estes ciclos são repetidos ao longo da noite, mesmo que por vezes a pessoa não se aperceba destes despertares, eles podem acontecer. Mais do isso: “É importante que aconteçam para marcar cada um dos ciclos até chegar ao sono profundo”, revela o médico.
Porque não dormimos bem?
Há vários motivos, mas segundo o estudo os mais destacados são o calor no quarto (9%) e as voltas na cama (11%). Mas o pódio dos culpados só fica completo quando falamos na pessoa que dorme ao seu lado. Uma em cada cinco admite que dormir acompanhado afeta a sua qualidade de sono (com o ressonar em destaque com 25% de queixosos).
A outra grande fatia dos inquiridos refere que se deita por volta da meia-noite ou mais tarde. Esta é uma rotina pouco saudável e que, segundo Joaquim Moita, se deve a vários fatores: “Razões laborais ou devido aos programas de televisão com maior visibilidade que também dão tarde. Tudo isso retarda a hora de ir dormir”.
Porque pode afetar a nossa saúde?
Em primeiro lugar o médico destaca a sonolência: “É uma consequência muito grave, quer a nível pessoal como social”, reforçando que a sinistralidade nas estradas se deve “em grande parte as pessoas que adormecem ao volante, e isso só acontece porque dormem mal”.
“Recentemente têm sido referidos em vários estudos as ligações entre dormir mal e a doença cardíaca”, refere o presidente da AP de sono. Neste caso falamos de uma pessoa que ao dormir pouco, e mal, corre o risco de ter uma morte precoce por problemas cardiovasculares. E não só. O médico refere que nos últimos anos, têm surgido “ligações entre a privação do sono e o aparecimento da diabetes em jovens que não têm excesso de peso – mas ao dormir pouco são ativadas várias vias no nosso corpo que podem provocar alterações metabólicas que podem levar, por exemplo, ao aparecimento da diabetes”, refere Joaquim Moita. “O sono de curta duração ou de má qualidade tem complicações a nível psíquico e cardíaco, diminuindo a esperança de vida”, conclui.
A situação agrava quando falamos de crianças que dormem mal. Os miúdos devem dormir bem (até aos 17 anos). Ao dormirem pouco “pode gerar um défice cognitivo grande, além da irritação, desconcentração e mau aproveitamento escolar”, refere Joaquim Moita. “O que acontece é que tanto as crianças como os adultos que sofrem de irritabilidade, associam-na ao stress, chegando mesmo a tomar medicação quando tudo poderia ser resolvido com umas boas horas de sono.”
O que fazer para dormir bem:
Um adulto deverá tentar adormecer entre as 23h30 e a meia-noite e acordar as 7h30: “Claro que, se a hora de levantar for mais tarde, a hora de dormir pode também ser ligeiramente adaptada”. O importante é criar uma rotina. O médico destaca que fazer exercício moderado e evitar o álcool são alguns dos segredos para dormir bem: “Importa ter consciência de que dormir bem não é um desperdício de horas, há que valorizar o sono e perceber que é fulcral para a vida e bem-estar diário”, conclui.